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      A cidade do Porto acolhe em Setembro próximo um evento científico internacional que é, seguramente, o mais importante dos encontros ibéricos na área dos estudos sobre literatura e escrita na Idade Média. O Congresso Internacional da Associação Hispânica de Literatura Medieval retorna, nesta sua XVI edição, a terras de Portugal, onde há mais de vinte anos não marcava presença. É nosso objectivo aproveitar o momento para difundir e dar visibilidade local aos estudos medievais; mas queremos também que um conhecimento mais próximo do Porto, por parte de todos os que venham a estar presentes, possibilite uma compreensão mais fina e detalhada do contributo desta região para as trocas culturais e literárias que sempre caracterizaram a Ibéria medieval.

      Com efeito, se nos é permitido situar-nos naquele período histórico em que os futuros reinos se definem, é no Porto que encontramos como bispo um dos redactores da Historia Compostelana, o francês Hugo, eleito em 1114 e aqui tendo falecido em 1136; é dos arredores da cidade, a montante do rio Douro, que é natural Joan Soarez de Paiva, o mais antigo trovador em galego-português conhecido, embora exilado do reino à época da sua actividade poético-musical; é ainda no Arquivo distrital da cidade do Porto que se encontra o mais antigo testemunho manuscrito do romance arturiano na Península Ibérica (finais do séc. XIII), um fragmento da Estória do Santo Graal proveniente do cartório de Santo Tirso.

      Alguns enredos recorrentes deste período, situados algures entre o épico e o romanesco quando o Douro era essencialmente um lugar de fronteira, tiveram também o Porto como referência fundamental, vindo a originar das mais marcantes narrativas da literatura galego-portuguesa. É à vista da cidade que os invasores gascos lutam com os muçulmanos e iniciam a conquista da terra de Riba Douro, tal como relata o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro de Barcelos; é também aqui que Ramiro, o fundador da cidade de Leão, derrota o rei muçulmano de Gaia e encontra a mulher moura com quem fará o primeiro da linhagem da Maia, os «mais nobres e os mais filhos d'algo de toda a Hespanha», como diz o Livro Velho de Linhagens; é ainda neste local que o trovador Rui Gomes de Briteiros anunciará o rapto da muito jovem herdeira de uma prestigiosa linhagem, dando origem a um caudal de testemunhos literários nos quais a realidade histórica se reconfigura. Tudo isto tem lugar «En Doiro, antr’o Porto e Gaia», expressão que nos pareceu, por essa mesma razão, ser o título adequado para o magno encontro de medievalistas em preparação. A todos damos as boas-vindas!

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